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quinta-feira, 25 de junho de 2009

O rato.

Naquela manhã, quando os raios solares buscaram meus olhos sonolentos, eu tive a obrigação de levantar-me. Colocando os pés no chão, o estalo do joelho acabara com todo silencio da velha-casa-misteriosa, que ali eu me encontrara, eu era um homem puro de coração, porem tendo de carregar muita merda para não perecer, assim como um rato, um rato não liberto.
Levando as mãos ao bule para preparar aquele café forte, que sempre descia amargando todo interior do estômago, ali estava eu, abrindo a torneira para pegar um pouco de água, água passada por canos imundos, só Deus sabe quanta porcaria naquilo se encontrara; vi a água saindo com uma cor indescritível, talvez uma cor de burro-quando-foge ou caramelo, amarelo... Pois bem, não sei.
Houve mais uma quebra de silencio, mais uma para me perturbar. A água fervente transbordara do bule de encontro ao fogão, trazendo aquele barulhinho... Aquele mesmo, parecido com um suspiro, algo para aliviar a dor.
E assim eu caí na realidade para minha infelicidade, descobri o mistério de toda vida, daquela casa inimiga que me perseguia a cada ano. Ela queria me engolir junto de sua podridão, envelhecendo-me, matando-me aos poucos como se fosse um rato teimoso no mesmo território, um rato persistente morrendo aos poucos envenenado.
Eu estava imóvel com a xícara na mão, o vapor encontrara o olhar, o olhar encontrara o canto da parede, mas pobres dos meus olhos, não tinham visão alguma.
Não pudera eu mudar uma vida que carreguei há cinquenta anos nas costas, feito uma cruz.
Ouço barulho no forro da velha casa, uma sombra negra, naquele instante a alegria me possuiu, pois ali havia um rato como eu, puro de coração e com muita merda para carregar, para não perecer.
A única diferença era que ele estava liberto, e eu um velho rato, prisioneiro em seu próprio território, porem, sem risco algum de ser pego por uma ratoeira.


Kamila

terça-feira, 23 de junho de 2009

Hoje minha intuição brincou de me abandonar, e eu morri três vezes, apenas morri.

O olhar caído no papel em cima da escrivaninha, as mãos tremulas tentando agarrar a caneta. As lagrimas encontraram o papel que ali mostrava versos, alma. Levanto-me, estou praticamente nua, pois não havia motivo para me cobrir, estou sozinha, vazia... Como todos os dias. Olhe-me no espelho, buscando esperança de viver uma farsa, uma felicidade. Acendo o cigarro e na boca sinto gosto-de-sangue, neste meu pensamento havia realidade intragável para muitos, a realidade de sumir e virar pó.
Ouço barulhos na porta, e passos, passos, passos a cercar meu cômodo, e como uma brisa quando encontra o corpo em um dia de praia, seu cheiro me encontrou, veio acabando com toda paz de um coração desgastado.
Ligo o radio alto a ponto de acabar com todo esse grito interno, busco a janela por querer um ar com cheiro de flores, afinal, precisava me controlar. Vou à direção à cama, perto da salvação, minha única salvação.
Ao passar os olhos, vejo um começo de vida, começo de amor, mas ao fim das contas, ali estava eu: sofrida, perturbada, com rancor nos olhos, com gosto-de-sangue na boca, e cheiro forte de cigarro no cabelo. A janela estava a 30 centímetros de mim, o chão me esperava, o vento me buscava, e assim decidi ir-me. Com gosto-de-sangue nos cabelos, rancor na boca, cheiro forte de cigarro nos olhos, e nua, pois não havia motivo para me cobrir.


Kamila

segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Parece, portanto, que homens e mulheres falham igualmente. Parece que não conhecemos em absoluto uma opinião profunda, imparcial e absolutamente justa sobre nossos próximos. Ou somos homens, ou somos mulheres. Ou somos frios, ou somos sentimentais. Ou somos jovens, ou estamos envelhecendo. Em qualquer caso, a vida não é senão uma procissão de sombras, e sabe Deus por que as abraçamos tão avidamente e as vemos partir com tal angústia, já que não passam de sombras"










(O quarto de Jacob - Virginia Woolf)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Esse meu mundo é perigoso, é um buraco, e aos meus olhos eu vou indo, me perdendo bem ao fundo dele.
Estou na cama, com os olhos fixos a parede, uma inimiga que sempre me persegue quando estou sozinha, sem amor e sem companhia.
É nesta hora que me lembro: Os meus dias são curtos, e eu não tenho tanto tempo para morrer de felicidade, estou me habituando à realidade.
Eu poderia ser qualquer espírito que quisesse, poderia viver uma vida que não é minha, mas que não seria de ninguém, eu poderia usar tal farsa como todos os seres que se contentam com palavras jogadas da boca para fora, poderia me contentar com afetos, e com esse mundo teatral... Eu poderia me contentar com o amor próprio, que até agora não se vê em mim.


Kamila

quinta-feira, 18 de junho de 2009

E se soubesse que toda minha saudade de te amar aumentaria ao te ver ir, eu rezaria e rezaria para o tempo parar, por toda vida.
Juro que esses meus olhos não negam saudade, e que as minhas mãos frias andam sem rumo, ao procurar pelos seus dedos entrelaçados aos meus.
Essa minha cabeça pesa por vontade de você, por amor, por necessidade de dizer que a amo, dizer com os olhos, com os gestos, com os mimos.
E nessas voltas da vida, não há vontade de outro corpo, de outra voz, alguém diferente de você, alguém que não seja você, pois você é única e não acredito que seja só minha...


Eu preciso me perder no seu abraço, no seu cheiro, na respiração... No seu coração, e no encanto de te ver dormir.




(..) Como para acercá-la minha alma a procura. Meu coração a procura, e ela não está comigo."


Kamila


("Uma fotografia é um segredo sobre um segredo.Quanto mais ele conta, menos você sabe.")


Diane Arbus

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Eu pude sentir todo calor de nossos corpos.
Eu apenas não consegui sorrir.




Não se sorri, quando o coração fala demais...



Kamila

A xícara nos lábios, o amor nos olhos

Eu poderia ver nossos olhares se cruzando, nos escondendo, da mais ridícula impossibilidade. Talvez o amor, talvez a dor.

- E você o que vê quando olha nos meus olhos?
- Eu vejo uma esperança muito grande, esperança de criança.
- Isso é ruim?
- Ás vezes. Esperança de criança às vezes decepciona.
- Eu realmente tenho um pouco de decepção e esperança, não nego.
- Esses seus olhos, cor de jabuticaba poderiam ser meu guia para mais perfeita segurança, já que tens tanta esperança.
- Minha alma nunca foi segura, quem dirá meus olhos, a esperança só é um enfeite da alma.
- Poderíamos nos tocar? Só mais uma vez, só por um segundo.
- Você poder me tocar quantas vezes quiser, quando nos encontrarmos.
- Quando nos encontrarmos?
- Sim. Em outras vidas, em outros corpos.
- Afinal, eu sou pura insegurança.
- Mas...
- Se talvez em outra vida, eu for um beija-flor...

(silêncio)



Kamila